ALGAZINE

COOL ZINE DO BAIRRO

10:47

Obituário mal definido

Postado por Algazine |


Naqueles dias
Que nada deu certo
Que você não achou
O caminho para seguir
Que você não conseguiu
abrir aquela porta
cheia de coisas mal definidas

E escombros do que mal começou,
Coragem é o que tu necessita
Para que não caia,
Na alameda da covardia
E que você escale o muro da derrota,
Para não pedir auxílio
Aos seus progenitores
E não sentir-se como um esperma

O futuro espreita na esquina
Pronto para cobrar
As dívidas do passado
Onde a sentença do julgamento
Já envolve a assinatura
Do obituário do seu destino

22:51

UMA ESCOLHA

Postado por Algazine |




Penélope balançava o corpo em movimentos aleatórios, sentada no meio do pátio, uma ilha isolada dos continentes formados por pequenos grupos amontoados, comunicando-se apenas por calor. Pela janela do dormitório, tinham visto a cidade ao longe queimando, queimando...
Correu até o outro lado do prédio para chamar os homens; queria que todos vissem aquele espetáculo! Então ficaram todos, quase todos, grudados às janelas, alguns pendurados às grades, alguns soltando gritos sem nexo, outros pulando deslumbrados, mesclados às mulheres de tal forma, com suas cabeças raspadas, que não se podia distingui-los, até que tal agitação os levou a dançarem por entre os leitos, provocando os poucos que haviam ficado de fora, alheados.
Apenas um dentre os internos não havia participado daquela festa inusitada: Julius mal vira o incêndio, já tinha ido ao alojamento dos funcionários, encontrando apenas provas de que estes haviam entrado em alguma espécie de pânico ou desespero que os levou a seus familiares ao longe... As chamas tão intensas lhe ajudaram a chegar ao escritório do diretor, trancado! Dele, saíam ruídos humanos que não prestavam a mínima atenção às suas batidas beirando ao descontrole!
Saiu do prédio e deu a volta nele, escalando a parede para olhar pela janela do diretor: alguns homens vestindo um uniforme nada estranho para ele circulavam pela sala, outros permaneciam sentados nas poucas poltronas, enquanto um deles, em frente à mesa, explicava aos outros que se ninguém escapasse dali, levaria dias até que os descobrissem, tempo suficiente para construir um perfeito esconderijo subterrâneo onde teriam condições de ficar por semanas, até que pudessem finalmente ir para outra cidade com suas novas identidades – e dissera isso apontando para uma pequena pasta de couro – onde fariam tudo outra vez! Aquele bando de malucos não seria um empecilho como o traidor morto havia sido...
Julius viu as chaves em cima da mesa junto à pasta; teria de entrar pela sala contígua! Desceu e subiu novamente em direção à janela ao lado; entrou e se alegrou ao ver a porta que dava para onde ele tanto queria chegar. Encostou-se a ela e esperou, esperou... Os ruídos cessaram, dando-lhe coragem para girar a maçaneta, l e n t a m e n t e... Dois deles dormiam em um sofá e outros dois nas poltronas; outro num balcão e o que parecia o líder roncava em cima da mesa. Julius não percebeu que faltava um, então entrou quase confiante e colocou a mão na pasta, passando-a para junto de seu corpo, nas costas, por dentro da calça. Amarrou-a mais apertada para não perder aquela preciosidade, quando ouviu passos apressados no corredor, combinados a um barulho de chaves.
Voltou para a saleta com tanto medo que teve de descer e correr ao dormitório, ainda na penumbra. A maioria dos pacientes já havia adormecido pelo chão ou pelas camas, amontoados, exaustos por terem vivido algo que nem recordariam. Falou com os que permaneciam nas janelas – em vão. Todos ali tinham algum tipo e nível de distúrbio mental... Mas e Penélope? Não fora ela quem os chamara? Sim, sua voz era inconfundível... Quem sabe ela era como ele? Procurou-a com os olhos, mas era impossível.
Julius só conseguiu vê-la quando levantou a última coberta do último leito da última fileira. Não havia mais ninguém num raio de uns seis metros. Ela fugia do brilho do dia que nascia, os olhos tão abertos e fixos que parecia morta. Não era como ele. Ninguém era. Mas era tão pequena e ofuscante, a única que sorria com todos os dentes...
Penélope soltou um grito abafado e puxou a coberta de volta. Mas ela era tão leve e alucinante, a única que fixava os olhos nele com interesse, imaginação e intenções... Julius entrou em seu refúgio e contou tudo que já havia dito aos outros sem resultado. Ficou extremamente surpreso quando ouviu que devia vestir-se com as roupas dos funcionários e levar aqueles documentos às mãos de alguém que verdadeiramente pudesse pôr fim ao terror. Logo ele, que queria tão-somente escapar com uma nova identidade! Esquecer definitivamente a faca rasgando seu braço e depois a garganta do outro...
Então perdeu o medo de ser encontrado com a pasta e adormeceu sonhando com o futuro que teria, livre e desconhecido ou heróico e admirado, tão envolvido pelo suave e intenso contato com aquele corpo que felizmente era tão oposto, a única... Alguém que não conseguia aceitar, nem negar, nem morrer. Fugiu. Mais uma vez.
Fazia horas que estava se balançando no meio do pátio com um vazio na mente que sempre tinha sido sua escolha quando Julius a encontrou. Mais uma vez. Vestido como um enfermeiro. Um enfermeiro louco?
Ele primeiro sentou à sua frente, chamando seu nome, em vão. Queria que ela fosse embora com ele, seja qual fosse a decisão que tomasse. Pronunciou algumas palavras muito mágicas das quais Penélope não pôde escapar, apenas aceitá-las.
Levantaram-se juntos e um abraço fez com que ela dissesse que sentia uma coisa muito boa quando seu rosto estava junto ao dele, o que era como se ela tivesse dito “eu te amo”, que foi o que ele entendeu, mesmo sem nunca ter ouvido antes, e foi o que o fez levá-la menos trêmulo até um empilhado de móveis de cozinha junto a um dos muros que os separariam do bosque. Mas ela não podia ficar sem seu remédio, não podia ficar sem seu remédio...
Os pequenos grupos amontoaram-se em volta deles, fazendo brotar em Julius o temor de não mais conseguir fugir, então apenas abraçou Penélope mais uma vez, longa e dolorosamente, e escalou o que lhe faltava para retornar ao desconhecido. Houve quem o seguisse. Ouviram-se gritos. A maioria, porém, ficou indiferente. Não uma moça, que se abaixou onde Penélope estava, as mãos cobrindo o rosto para esconder a dor e tudo que ela causava, inclusive o desejo de morte. Sorrindo com poucos dentes, ela lhe ofereceu uma pequena pasta de couro...
Penélope levou alguns instantes para perceber a insistência da outra, mas quando compreendeu do que se tratava, abriu a pasta violentamente e viu todas as identidades e mais alguns documentos, dinheiro e cartões de médicos e advogados... Pediu desesperadamente aos que ainda estavam ali que fossem atrás de Julius devolver o que a outra tinha roubado, mas um dizia que era muito novo, outro respondia que estava ocupado, outro que estava cansado...
Negou, então, sua loucura e foi ela mesma procurá-lo. Correu pelo bosque como uma pessoa mentalmente saudável, de quando em quando encontrando um fugitivo perdido; um estava nu. Sem a medicação da manhã, estava terrivelmente agressivo e não deixou que ela prosseguisse, esmurrando-a cada vez que tentava se desvencilhar. Derrubou-a no chão com uma fúria incontrolável, parando apenas de tentar arrancar sua roupa com os dentes quando ela conseguiu cravar os seus no pescoço dele... Como a vida era frágil! Uma veia cortada era suficiente para tirar a vitalidade do ser mais dominador! Ou para mandar qualquer um de volta à insanidade...
Penélope então correu como louca, gritando o nome de seu salvador por onde passava, até que desistiu. Atirou-se ao solo soluçando de incompreensão, pronta para fazer a pergunta que a tinha levado ao hospício, quando Julius a encontrou ainda outra vez.
– Eu matei um homem!
– Então agora somo iguais! Vamos escolher a mesma coisa! Pra que tentar impedir o inevitável?
– Essa pergunta é quase maldita!
– Quase...
Viveram juntos, então, de pequenos furtos e pequenas aventuras por alguns meses, até os cabelos crescerem o suficiente para serem aceitos em algum meio, e certo é que fizeram sentido um para o outro por alguns anos, enquanto as cidades ardiam em seus pecados...



Regina Majerkowski

22:45

?

Postado por Algazine |


O dia começou mal. Na verdade, não me refiro ao início convencional, pois então não teria sido ruim, já que eu estava dormindo. Fui deitar por volta das 10 horas no domingo. Centésimo primeiro dia sozinho. Mais novecentos e eu talvez me sentisse bem.
Primeira cena do terceiro filme; finalmente podia dizer que o personagem combinava comigo. Não, não foi o personagem que mudou. E, mais uma vez, não era exatamente a primeira cena, claro.
Alguém me levou até o set; não lembro quem foi. As pessoas não eram nada além de imagens vazias pra mim, então eu não as olhava muito pra evitar de pensar o quanto eu era uma pessoa.
O bom (ou estranhamente bom) foi que por volta de umas 10 horas eu apaguei. Por alguns minutos, mas deu pra me sentir vivo. Quase tão vivo como antes, quando eu era... É que eu ainda não sabia o que eu era. Nem ninguém soube o que realmente aconteceu. Ninguém sabe ainda. Decidi que apenas uma pessoa saberá: eu mesmo! Brincadeirinha. Falando sério, agora: apenas a alma que co-ocupei. E depois que eu morrer e não tiver mais descendentes diretos, talvez você (mas vou fazer com que pareça apenas algo da minha imaginação).
Essa primeira vez foi muito rápida; durou apenas o tempo de uma das faixas de uma das trilhas sonoras de um dos filmes em que atuei. A última faixa, pra ser bem exato. Não vou dizer o nome senão vai ficar real demais. Admito que fico louco de vontade de dizer pelo menos o gênero ou algo que a identificasse sem sombra de dúvida, mas como estou até escrevendo com um pseudônimo, fica incoerente, não?
Então: eu senti minha mente ou espírito ou o que quer que seja apagando.
E voltando em outro lugar, em outro corpo, quem sabe em outro tempo (não, assim já é demais, parece o roteiro de um filme que eu conheço). Foi só num país diferente (pensando bem, o tempo era diferente por causa do fuso horário). Entrei em uma pessoa sem imagem e não-vazia. Ela era... Era algo que eu não era. Sim, era várias coisas que eu não era, mas basicamente essa uma coisa que me foi revelada mais tarde, ou melhor, meses depois, era o fator-mor.
Ela caminhava. Ia por uma estrada estreita com árvores altas dos dois lados e cercas de arame isolando quase todos os sítios, ouvindo a faixa de que falei. E cantava junto, com uma voz inaudível pra quem usava fones, porém se alguém passasse por ela, ouviria. Eu senti as cordas vocais vibrando.
Depois, tudo que senti foi uma raiva enorme por não ter notado alguns outros elementos que me ajudassem a identificá-la. Essa raiva foi meu primeiro sentimento diferente de dor. E gostei disso imediatamente. Até porque seria bom pro personagem. Não, isso foi mentira: eu não via minha vida profissional como um barquinho de papel carregando o soldadinho de chumbo (eu) pelo bueiro. Era mais algo tipo bengalas, muletas, macas, cadeiras de rodas, escadas rolantes, elevadores e até mesmo carros automáticos.
Raiva. Que não pude expressar, já que havia muita gente à minha volta tentando me reanimar dentro de um veículo em alta velocidade. Achando que eu estava drogado. Pensando no escândalo. Mais raiva. Pra logo eu me acalmar, dizendo pra mim mesmo que eu tinha de continuar sabendo lidar com o lado negro da força. Outra brincadeirinha! Eu quis dizer com o lado ruim da profissão.
Fui ao hospital e isto é tudo que se sabe sobre mim de estranho naquele filme: "fulano de tal desmaia durante as filmagens de filme tal devido a efeito colateral de anti-depressivos que vinha tomando há meses após tal fato." Jura que eu ia permitir que isso afetasse meu segundo amor! Que infelizmente naquela época também era o primeiro.
Adiaram as filmagens por duas semanas. Foi tudo de que eu precisei. Apesar de que se passaram dois dias até eu... voltar a ela.
Mesma rua; mesma música. Vi que esse era o padrão. Freneticamente anotei na minha memória tudo que ia vendo pelo caminho: placas de trânsito, de carros, qualquer identificador! E então: alegria! Minha primeira em tanto tempo! A faixa terminou e eu digitei aquilo tudo no google (vai dizer? Éramos ou não éramos seres humanos irracionais sem a internet? Você pode responder o que quiser, ok?) pra descobrir praticamente a localização exata de onde eu havia "estado". O segundo e definitivo passo, ou melhor, clique, foi no google earth (parece propaganda, mas não é - juro que não estou ganhando nada pra dizer os nomes desses sites).
Então pensei: onde está a emoção? A que eu senti quando não sabia nada sobre essa pessoa hospedeira-minha? E em como pulei etapas emotivas com relação a ela... E como talvez essa facilidade com tudo tivesse me levado à minha situação atual...
O pensamento que se seguiu foi: fuck! Meus genes precisam se acostumar com isso! E consegui ver a garota em tempo real.
Ela era normal. Quero dizer, não possuía uma beleza diferenciadora. Claro que só fiquei sabendo disso quando recebi umas fotos tiradas por uma pessoa que contratei pra me dar todas as informações relativas a ela pela... internet. Porque imagem de satélite sucks!
Mas ainda havia o fator-mor (lembra dele?). Sem ele, eu não entendia minhas experiências quero-ser-john-malkovich... No entanto, era tal deleite quando podia me sentir dentro dela (por favor, não coloque conotações mais ousadas em minhas palavras, pelo menos ainda não) que não me importava mais com explicações.
Bem, na verdade, até que umas explicaçõezinhas caíam bem, e comecei a falar com ela através de um site nacional de relacionamentos (acho que chega de propagandas... Nosso mundo já está tão incrivelmente perdido por causa delas...) no qual ela tinha um perfil visitadíssimo fazia alguns anos. Visitadíssimo. É claro que ela não acreditou que eu fosse eu; por fim, me rendi a uma condição de fake. O que me levou a não ter remorsos quanto a inventar uma história com relação à nossa música, pra que ela só a escutasse nos finais de semana, em casa, num determinado horário, e no repeat! E aí comecei a ver como ela era verdadeira.
E também como era amada. E como amava. Duplo sentido. Isso meses depois, huh? Inclusive terminaram minhas filmagens. O que me prendia? Os satélites, os fios, os arquivos recebidos ou os salvos? Isso mesmo.
O medo de dar um passo diferente deixava minha alma presa num castelo kafkiano. E foi quando acreditei que não precisava dela fisicamente que tudo piorou.
Não vamos ser ingênuos. A vida dela era perfeita! Bom, na maioria dos aspectos... Por que ela a trocaria por mim? Já a minha... Havia aquele buraco. Um buraco enorme, escuro e entediante. Isso porque graças a ela já não era execrável. E, no entanto, eu também não podia deixá-la pra trás. É difícil pra mim expressar essas coisas em português, espero que não tenha ficado insoluvelmente confusa essa estrutura.
Ainda mais porque nós chegamos a uma solução! Por sorte, ou melhor, por meu talento (por que negar?), eu tinha bastante dinheiro pra ficar uma semana por mês com ela! E agora vocês podem imaginar todas as conotações possíveis!
A pergunta número 1 que vocês estão se fazendo é: "Ele finalmente contou a ela?" Se não é, deveria ser!
Bom, eu contei, sim. E ela não me largou por isso! Só me lança uns olhares estranhos de vez em quando... Não lança, não, to brincando!
Quanto à pergunta número 2, prefiro dizer somente que as lendas não existem pra serem explicadas, apenas pra mostrar como fatores-mor são difíceis e fáceis de achar ao mesmo tempo!


Regina Majerkowski

22:35

A

Postado por Algazine |




estranho...

às vezes, envergonho-me de ser séria
de ver com uns olhos crítico-analíticos
recortes que talvez nada movam além

e então...

semântico-lingüisticamente sou um outro personagem
inalcançável, lá do outro lado do abismo do que é dito
enquanto esse eu aqui prevê efeitos da bipolaridade

mas será?

sigo copiando, colando e negando
que a única fonte do riso que eu rio
desconhece reflexões e perguntas
a angústia, a agonia, a ambigüidade atormentam a alma aprisionada ao amanhecer



Regina Majerkowski

22:34

Luisfernandoverissiana

Postado por Algazine |







Mulher (Jane Fonda) tem filha de 17 anos (Meg Ryan) que descobre cartas e recordações antigas dela, que sempre afirmara que seu pai (Nicolas Cage) estava morto; ela, então, quer conhecê-lo; a mulher lhe escreve, mas ele demora três meses para responder (Viu? Ele tá morto. Olha o que acaba de chegar – uma carta dele. É, acho que ressuscitou.) As duas vão ao seu encontro numa cidadezinha do interior. Ele mora num cortiço-like, com mais três pessoas; a dona (Elizabeth Taylor) mora nos fundos, e, na frente, tem uma fruteira da qual duas senhoras (Audrey Hepburn e Diane Keaton) tomam conta. Seus vizinhos (Cher e Anthony Hopkins) encorajam uma religação entre a mulher e o marido reencontrado, embora as senhoras da fruteira sejam contra. Mas a mulher parece que realmente revive um clima com o ex-marido, embora termine se apaixonando pelo vizinho. (Filha, segundo dia: Tá bom, mãe, já conheci meu pai, ele é legal; agora podemos ir embora? Não tem nada pra fazer nessa cidade. Mas tu não pode agüentar mais uns dias? O próximo ônibus direto só sai na segunda...) A mãe fica por lá, mas termina deixando a filha voltar, pois ela já estava ficando parecida com a Sandra Bernhardt, e uma troca de atrizes encareceria muito o filme...



Regina Majerkowski

22:32

Sonho

Postado por Algazine |


Outro dia tive um sonho
Sonhei que todo dia era quarta-feira
Que havia um filme em meus olhos
E que o sonho vinha antes de dormir
Então dormi antes que fosse cedo

Outra noite fiz uma descoberta
Descobri que quarta-feira é todo dia
Que em meus olhos há um filme
E que antes de dormir vem o sonho
Então sonhei antes que fosse tarde

Amanhã vou fazer uma quarta-feira diferente
Vou colocar o filme de volta na tela
E queimar meu dicionário de inglês
Vou sonhar que ainda é cedo
Para descobrir que nunca foi tarde


Regina Majerkowski

22:30

A PALAVRA

Postado por Algazine |


A palavra e a convenção
São cínicas e não são
Assim como esse poema



Regina Majerkowski

22:19

OS SONHOS DE ...

Postado por Algazine |







Regina Majerkowski


“Eu sempre acordo quando toca Chop Suey. Acordo sempre em um lugar diferente. Sempre eu...”
Dessa vez, acordei na Assis Brasil. Senti que estava vindo de dentro de um ônibus, porque segundos antes de aterrissar, fiquei flutuando no meio da calçada, ainda experimentando a sensação que um veículo em movimento nos causa.
Então encostei suavemente nas pedras do calçamento, mais uma vez enrolada no meu edredom branco com pequeninas folhas verdes, flores brancas e botões azuis; de um lado, é claro. E pensei: eu sempre acordo quando toca Chop Suey! E continuei pensando: engraçado que ela toca duas vezes seguidas; preciso arrumar isso.
Chovia, então rolei até a vitrine de uma loja e arrumei minhas coisas em cima da muretinha que me impedia o contato direto com o vidro do mercadinho. Eram apenas alguns pares de sapato, obviamente, meu remédio e a mochila, onde ficava meu segredo, a carteira e o celular.
Continuei bem enrolada na minha coberta porque fazia um pouco de frio, tomei meu remédio e me recostei na banquinha de frutas pra tentar dormir outra vez...
Quando estava quase conseguindo, apareceu um mendigo louco, de pele muito escura de sujeira, o cabelo mais duro que um caroço de pêssego – inclusive parecia-se muito com um – totalmente vestido de negro e com um cheiro, ou melhor, um odor, melhor ainda, um fedor... Certo, uma caatinga insuportável de urina, remédio e naftalina.
Ele só parou e ficou me olhando; não disse uma palavra sequer, mas seus olhos pareciam dizer: “de onde viemos...???”
Eu procurei não tirar meus olhos dele, não por medo, mas por saber que a qualquer momento ele precisaria de mim; eu tinha de ficar alerta!
Vindo na direção oposta à que ele viera, um velho e uma menina pararam pra olhar as frutas. A menina, muito loira e muito cacheada e muito de vestidinho e meia-calça, queria caquis. O velho, de cabelos quase longos, prateados e ensebados na cabeça com algum produto que não deixava o vento interagir com eles, vestia uma roupa cinza feita sob encomenda no início do século passado. Ele não queria caquis. Também não nos queria. E disse: “Não tens vergonha de andar pela rua nessa imundície? Que tragédia, vais contaminar o ar que minha neta respira!”
O louco não deu nenhum sinal de haver escutado aquilo. Mas eu sim, pois ergui um pouco o corpo de lagarta pra que o velho me enxergasse. E ele continuou discursando: “Tu não podias ser como aquela menina? Bem vemos que ela vive nas ruas, porém mira seu cabelo! Até brilha! A pobre, entretanto, parece não ter um centavo!”
O mendigo, então, virou-se para o velho e para suas palavras munidas puramente de um veneno ácido-sulfúrico e fez com ele o que tinha feito comigo.
Bem, o avô daquela menina tão agradável de se olhar não gostou nadinha da atitude de seu novo porém eterno inimigo, e explodiu em vitupérios: “Eu odeio a pobreza! A pobreza é nojenta! É suja! Eu abomino os pobres! Eles fedem!”
Ele disse mais algumas vezes “eu odeio a pobreza” em meio a outras injúrias e xingamentos, e eu pensei: “me parece que ele gosta de falar mas não faz nada”. E pensei ainda: “Talvez esse mendigo esteja louco de fome.” Pensei eu mais algumas coisas, certamente, e levantei, um pouquinho contrariada por ter de me desenrolar.
Deixei tudo onde estava, menos a mochila, que era invisível pra mim, mas não para os outros, e entrei no mercado. Fui até o balcão e pedi qualquer coisa pra comer e tomar, algo que parecesse um almoço. Enquanto o funcionário buscava um frango assado e uma caixa de suco, fiquei tentando abrir o fecho da mochila pra pegar a carteira, tarefa que sempre me causava certo transtorno, não é verdade?
Por sorte, um ser magneticamente interessante estava ao meu lado esperando que outro funcionário pesasse e embrulhasse uns biscoitinhos amanteigados com goiabada em cima – eram uns biscoitos de um amarelo muito muito clarinho – e por dentro de sua camisa da cor dos biscoitos ele sentiu que podia fazer algo por mim. Ele tinha os cabelos muito negros, grudados na cabeça com algum produto que não os deixava ensebados nem parecidos com caroços de pêssego, mas tão duros que um de seus fios poderia ser usado para perfurar minha pele. Pensei: ”Quando quiser fazer mais uma tatuagem, não vou perder muito tempo procurando um doador, não dessa vez.” E continuei pensando: “Só preciso saber onde ele mora.”
Seu nome era Accel, e ele conseguiu abrir minha mochila. Sorri, paguei pela comida e trocamos nossas primeiras palavras: “Isso não é pra mim, é pro mendigo.”
Meu nome era Notty, e eu pensei: “Nossa!” Sei que ele pensou isso também.
Saímos juntos, entregamos nossos pacotes juntos e então eu soube que ele já conhecia aquele louco há anos e que toda semana comprava biscoitinhos amanteigados pra ele. Às vezes com goiabada, às vezes não. Ele não sabia ao certo se o mendigo gostava da cor, do sabor ou do aroma, porque primeiro o pobre abria o pacote e ficava cheirando, depois pegava um por um e olhava e olhava e olhava, pra depois comer bem devagar, de olhos fechados. Tendo goiabada ou não.
Coloquei minhas coisas todas dentro da mochila, até o edredom, que era tão velho que nem tinha mais recheio, e Accel me perguntou o que eu fazia jogada numa calçada se tinha várias notas de 20 e de 50 na carteira.
Respondi que era por causa do meu segredo e perguntei pra onde ele estava indo. “Pra casa”, ele disse. E eu fui junto com ele. Era inevitável.
Andamos calados durante todo o caminho, porém havia algo que me fazia caminhar cada vez mais perto dele, e também uma outra coisa, ou a mesma, que fez com que ele passasse o braço por cima do meu ombro. Aquilo me machucou, mas eu não podia impedir. Então me deixei sentir tudo de bom e tudo de ruim que o contato me causava. Idêntico ao que eu sentia secretamente olhando as fotos no meu notebook secreto. Até que ele me fez mais perguntas, enquanto abria um portão muito baixo e muito enferrujado: “Tá, e aí? Entramos? Consegue enfrentar uma família? Minha irmã tem uma filha.”
“Sim, eu já sabia”, eu respondi com a alma lavando. Meu cabelo escorria liso pelo corpo por causa da chuva, vermelho como o fogo que arde sem se ver, longo como o sofrimento de quem nem sabe mais porque sofre.
Entramos. Seus pais acharam um absurdo ele me trazer pra morar ali, mas eu disse que seria por pouco tempo e que os ajudaria a terminar de colocar o piso na casa, pois tinha muito dinheiro – eu não contava a ninguém, mas ele vinha do significado que eu uma vez dera às palavras – o que os agradou muito, mas deixou Accel insatisfeito. Ele também sentia que não podíamos nos separar e achava que um seria a cura para o outro.
Levou-me a seu quarto. Vi em cima de uma prateleira os únicos objetos sem poeira daquele lugar: óculos, é claro, seu remédio e uma caixa transparente onde eu podia ver brinquedos em miniatura bem antigos, mas ele não.
Compartilhamos nossos segredos – ele tinha a dor dos que nunca tiveram nada. E pensamos juntos: ”Agora daremos um ao outro tudo o que nos falta”.
De repente, escutamos Come into my sleep e ele não pôde mais ser visto por mim.
Ele sempre dormia quando tocava Come into my sleep. Dormia sempre em lugares diferentes. Sempre ele...
E sempre acordava sozinho, como eu dormia sozinha.
Sempre? Até o sempre tem um fim. Quando ele acordasse comigo e eu dormisse com ele, nossa loucura faria sentido ao menos pra Accel e Notty*, e então mudaríamos nossos nomes para Lygia e Robert**.


*Lexotan proporciona aumento da sonolência e relaxamento muscular.
**Provigil trata a sonolência excessiva diurna.

22:14

Duas vezes

Postado por Algazine |


Nem sempre o que é
É o que parece
Às vezes, a solidão me atinge
De um jeito transparente
Mas, depois de algum tempo
Desaparece...


Jefferson, vulgo Roqueiro

23:45

Sexta-feira cinzenta

Postado por Algazine |


Voltei da guerra numa sexta-feira cinzenta. Apenas o cemitério esperava por mim.
Pelas ruas enviuvadas ia eu amortecido, de quando em quando me deparando com mulheres que com os olhos não me perdoavam a vida.
No rosto de cada criança perdida estava escrita minha sentença por ter roubado sua alegria.
Percebi meu erro, meu imenso e contínuo erro, e em nome de todos e de mim declarei paz ao que me restava, mas a dor daquela sexta-feira cinzenta nunca pôde ser amputada de minha alma...

Regina Majerkowski

23:44

Mais uma nota musical

Postado por Algazine |


No dia 14 de setembro, algumas bandas do Algarve e de Alvorada
vão se apresentar no Pátio do Potoverde.

No mesmo dia, a Habitasul distribuirá mudas de árvores em troca de garrafas pet.

23:43

Mensagens pelas ruas

Postado por Algazine |


Você as recebeu? No bus, nos postes, nas paradas. "Leia o Algazine e beba à palavra do bairro."

23:40

Resenha de livro

Postado por Algazine |



Nada como estrearmos a sessão das resenhas de livros com uma nota muito especial sobre um livro altamente independente e alternativo que foi publicado aqui mesmo no nosso bairro.
Estou falando de nada menos que "Swift or Shafts, You Know?", de autoria de Adamski e Majerkowski, escrito em 9 meses, tá ligado? Entre março e dezembro de 2006 - só pra fazer uma citação do conteúdo do índice catalográfico. E, se desde o índice já temos surpresas, que dirá nos capítulos que o compõem! O primeiro não tem nome; o segundo se chama Capítulo 3, e o terceiro, Capítulo Seguinte (claro que tudo isso foi escrito originalmente em inglês, porém no ano seguinte editaram-se cópias bilíngües). E tem até uma página colorida criada a partir de um dos plugins do Windows Media Player!
Note-se que todas as cópias foram distribuídas gratuitamente entre a população que freqüenta as casas dos autores e a Feira do Livro de Porto Alegre!
Mas e a história? Bem, só o que eu posso dizer é que é preciso lê-la!



Pensando melhor, vou contar um pouquinho: é a saga de dois personagens inacabados em busca de algo perdido num mundo devastado... Recheada de alusões a músicas, filmes e pintura! E essa é apenas a primeira parte... Surreal? Pode apostar!

Matheus E.P.



Às vezes, os seres humanos fazem exatamente as mesmas coisas que outros seres humanos fizeram antes deles; às vezes, não. É porque existem outras coisas que podem ser feitas do mesmo modo e, assim, obter o mesmo resultado.
Não fosse por isso, todos os dias, todos acordariam à mesma hora, descontando a questão do fuso horário, e tomariam banho com o mesmo sabonete, sonhariam acordados com os mesmos homens e mulheres e seu trabalho seria idêntico, e suas roupas seriam iguais, por todos os séculos da humanidade.
Mas então, como coisas são recriadas a todo instante das cinzas, o que nosso pobre ser humano fica continuamente fazendo é agir da mesma forma - agir da mesma forma - embora diferentemente - o que fica difícil de aceitar num primeiro momento. Segundo momento: eu como bergamota sem pele, e você? Talvez você machuque as pessoas sem dó, ou escreva poemas sem rima...

Regina Majerkowski

23:30

Nota musical

Postado por Algazine |

A banda Aerolitos acaba de lançar seu primeiro clipe - e primeiro de rock do bairro. Com a música "Vá Embora", lugares como a pista de skate ou o pátio do Portoverde podem ser conferidos junto com a performance dos mais quentes hardcorers do Algarve. O clipe vai ter exibição no próximo dia 06 de setembro, no Freak Out, e logo será disponiblizado no YouTube.

23:29

Resenha de filme

Postado por Algazine |


Ensina-me a viver (Harold and Maude, EUA, 1971; dirigido por Hal Ashby, com Bud Cort, Ruth Gordon e Vivian Pickles; trilha sonora de Cat Stevens)
É simplesmente meu filme favorito: uma história de amor com humor negro que transcende as barreiras da idade, satirizando a autoridade presente no exército, na igreja e na sociedade capitalista, bem como na área da psicologia. Harold, interpretado magnificamente por Bud Cort, é um jovem-velho obcecado por suicídio que encontra Maude (Ruth Gordon), uma velha-jovem anarquista com um profundo amor à vida e à liberdade. O que surgirá desse encontro?
Totalmente filmada em locações reais em São Francisco, essa obra de arte única no cinema mostra o ponto de vista do personagem central em todas as cenas, criando uma atmosfera subjetiva cativante que nos leva a uma reflexão, um posicionamento frente às várias questões que vão sendo apresentadas, mas de uma forma leve e deliciosa! Imperdível!

Regina Majerkowski

23:23

Chute no Rim

Postado por Algazine |


Como é a mais antiga em atividade no bairro, o Algazine começa apresentando a malvada...

CHUTE NO RIM!!!

Enquanto todos crescem e buscam algo melhor, a banda Chute no Rim perde todo o tempo de suas vidas se dedicando à ingrata e mal remunerada tarefa de fazer punk rock no Brasil.
A saga rumo ao fracasso começa mais ou menos no ano de 2004, e continuam lutando. Os amigos de infância, sem a menor aptidão musical, sem amigos no meio e com uma vaga e errada idéia sobre o que é ter uma banda.
Agora com uma nova formação, a banda Chute no Rim continua fazendo barulho para todos aqueles que curtem a banda e para todos que quiserem curtir.

orkut: Banda Chute no Rim
e-mail: marlon.de.mais@hotmail.com
sites: http://www.chutenorim.net46.net/
http://www.chutenorim.palcomp3.com.br/

22:44

Espelho

Postado por Algazine |


Há quem pense que não há mais salvação para esse mundo ou para as pessoas que nele vivem. Eu discordo. Há muito tempo atrás, eu ouvi histórias e mais histórias sobre um artefato mágico. Um artefato mágico importantíssimo.
Alguns diziam ter caído do céu; outros, que havia brotado da terra, mas nenhum deles cogitou a hipótese de ser apenas mais um dos modos que os deuses criam para nos testar. Esse artefato mágico mexeu com o mundo... E se eu acreditasse em vida fora da Terra, poderia dizer que com os habitantes de outros planetas também.
O artefato caiu em mãos de cientistas. Cientistas céticos e sem muito o que imaginar.
- É maligno... Vejo um monstro a me olhar!
O artefato nada mais era do que um simples espelho de mão usado no século XIX pelas mulheres da corte. Mas não era maligno. O cientista só via um monstro refletindo sua aparência, por ser um monstro.
Acontecia que o espelho não mostrava como somos por fora, mas como realmente somos por dentro. Uma mulher sem educação e respeito, mesmo sendo a mais bela, se mostraria um monstro de pele enrugada, unhas compridas e disformes, sem cabelos e de olhos esbugalhados como os de um gato à noite.
O espelho assustara a sociedade, mas não a ponto de querer destruí-lo. Cada um queria poder se olhar no espelho e ver como realmente era. Tornou-se uma atração. Uma atração macabra. Cada vez mais, as pessoas pagavam caro e faziam alvoroço para poderem ver os mosntros refletidos no espelho de mão.
Não que o mundo não precisasse disso. Era um bom investimento para um mundo melhor, pensava o presidente daquele país, contando as cédulas de dinehiro, com os pés sobre sua mesa e um sorriso bobo no rosto. Realmente, o mundo não precisava de pessoas melhores. Pessoas que percebessem que estavam erradas e que poderia haver um jeito de mudar.
Essa era a esperança dos líderes, mas como a febre do espelho não demorou a passar e as pessoas começaram a ficar cada vez mais violentas e ... monstruosas, eles chegaram a um acordo.
Exatamente um ano depois do aparecimento do espelho, uma pequena nave que transportava o artefato mágico subiu aos céus. O espelho, ao chegar lá em cima, não resisitu e se partiu em bilhões de pedacinhos. Nauqela noite, choveu espelhos.
Hoje, todos nós ainda temos alguns dos pedacinhos do espelho em nossas almas. Somos aptos a despertá-los e ver o quanto somos capazes de melhorar e destruir o mosntro que vive dentro de nós.

Mary Bortoletti

Versão escaneada do zine. Pode ser baixado pelo link:
http://www.4shared.com/file/62766809/c0ebe903/Algazine_set08.html
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12:45

Edição de Setembro

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10:45

ASSOMBRAÇÃO ( Italo Zen)

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Alta madrugada. Quase três da manhã. Fui esquentar a água pro café, que me mantém acordado nessas noites em que não durmo. Antes de voltar ao meu quarto, dirijo-me ao pátio dos fundos, atraído pela claridade do luar. Um poderoso acesso de tosse toma conta de mim. "Deve ser o cigarro", penso, mais por hábito que por paranóia. "Ou o sereno"; mas essa idéia, que, no entanto, era a mais lógica, passou muito por alto nas minhas probabilidades. Só pode ser o cigarro. Desde que comecei a fumar, sempre me assombrou o pressentimento de morrer de câncer no pulmão. Talvez isso se passe com todos os fumantes. Não sei, comigo é assim. Começaram então esses tardios arrependimentos, aquele pavor da morte próxima, o terror do mal irreversível. Pior que o condenado à forca, que ainda pode sonhar com uma fuga repentina, a peste em mim alojava-se no interior; sim, meu padecimento será mais penoso que o do enforcado, uma vez que morrerei aos poucos, sob o peso da consciência, do remorso e, enfim, do desespero. Meu coração bateu acelerado, de medo; arranquei uma toalha do varal para abafar o som da minha doença, encostei-me no muro e encarei a lua. O céu estava lindo; a lua, cheia. As nuvens formavam uma visão fantástica, dessas que não são comuns. A natureza, enfim, zombava de mim. Eu dei uma cuspida com toda a força na direção do céu e retornei ao meu quarto, com uma tímida esperança de que a causa da minha enfermidade fosse mesmo o sereno. Eu, que desde há muito sou sensível ao belo, fiz poemas sobre o meu passado, para me distrair dos negros pensamentos que me rodeavam.
Mas aquela irreprimível irritação na garganta não permitia que eu afastasse aquelas idéias sombrias. Larguei alguns escarros no chão, queria saber se não cuspia sangue. Nesses casos, a gente nunca sabe, e eu não entendo muito disso, nunca conheci alguém que teve câncer, tampouco li muita coisa a respeito. Mas não cuspia sangue, ainda bem. Talvez não fosse esse o primeiro sintoma nos cinco primeiros minutos em que a moléstia se manifestava...
Nunca sofri de asma ou coisa do tipo; não sei o que é ter falta de ar, mas acho que senti isso hoje, pela primeira vez. Uma tosse estranha, que de uma certa forma me doía em algum lugar, uma sensação muito ruim, que fez meus nervos tremelicarem um pouco. Acho que era mais difícil puxar o ar, e me doía assim, aqui dentro, na altura do peito (será que era o coração?), e foi isso, eu acho, que me assustou. Acho que vou acender um cigarro. Será que tem cura? Afinal, não faz três décadas que eu carrego esse vício!
E mais, juntando as vezes que tentei parar, pode-se reduzir quase quatro anos desse tempo, sim, pode-se! A tosse acalmou um pouco. Acendi o cigarro. Tanto me faz. Tive de me levantar pra ir ao banheiro, e na volta acendi. E por descaramento fui novamente lá pra fora enfrentar a lua, mas ela agora se escondeu atrás das nuvens; muito bem, aprendeu a lição. Mesmo assim, manifestei de novo meu desprezo por toda aquela beleza atrevida, e cuspi ainda com mais força; depois, atirava toda a fumaça pra cima, que é pra mostrar que eu tenho personalidade, e que também posso caçoar das coisas divinas. Entrei no quarto muito contente e satisfeito comigo mesmo, sim, por que não? Acho que tenho todo o direito. Acho que vou ler um livro e ouvir música clássica; sim, pois sou um tipo muito culto. O café, agora, além de amargo, está frio. Não vou tomar.
Fiquei uns minutos pensando na minha vida de agora em diante, e há certas vantagens: não preciso mais cuidar do colesterol nem evitar o diabetes, não preciso mais me preocupar com a faculdade que não fiz, ou com o sonho que não tentei realizar. Foi até melhor, não haveria mesmo tempo, e só perderia horas de liberdade. Sim, tudo aconteceu por alguma razão. Por natureza, costumava ser bastante cético, mas começo a pensar diferente (mas, então, na aproximação do fim, ateus não se convertem, e criminosos não se arrependem?). Não que eu mude agora pra ser perdoado, eu lá preciso disso! Mas passei a ver de outra maneira, porque eu reconheço quando mudo de opinião, sou muito expansivo; acho que, antes de cético, tenho um pouco de agnóstico a partir de hoje; sim, por que não? Até o dia de minha morte, posso vir a ser católico, evangélico, protestante, pagão, adventista, ateu, budista, maçom, ou o que me apetecer!
Posso fazer um filho em alguém, com o perverso intento de deixar no mundo uma criança sem pai, ou mesmo com a egoísta resolução, mas não maldosa, de querer que uma parte minha continue viva após ter eu partido. Possuo tantas opções; interessante como sou criativo! Curioso: fumei e a tosse não voltou, mas vai ver é assim mesmo, a gente nunca sabe. Silêncio. A ondulação charmosa da fumaça no ar sem vento do meu quarto; que imagens artísticas elas formam! Que infortúnio! Caiu cinza no chão. Pra me vingar, soprei com toda a saúde de meus pulmões aquelas figuras azuladas, que se dispersaram estonteadas, e assim mesmo! Apago o cigarro e me deito. Apago também a luz. Não posso dormir, não vai muito já tenho de levantar-me. Sinto um profundo vazio em mim, que me incomoda. Fico, então, tranqüilo: deve ser fome, e eu, com fome, não consigo dormir.

10:43

Complexo

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Queria contratar alguém
Que limpasse o meu coração
Pois já faz dois anos
Que não o descongelo

Queria acordar de noite
E ter alguém para andar por aí
Naquelas noites mais frias
Alguém que quebre as pedras da solidão
No caminho de cada dia

Alguém que faça lembrar
A melhor mãe do mundo
Mas que depois não me expulse
De sua vida

Alguém que seja
A amante perfeita
E pule o muro para entrar
No meu quarto
Naqueles dias mais vazios

Esse alguém
Só não pode ser
Mais alguém
Que no final
Vire ninguém.



Loko




Os algarvianos Diey Noxivs, Richard Nixon e Darwin, vulgo Goi, foram detidos enquanto protestavam contra a governadora Yeda Crusius, em frente ao Palácio Piratini, na madrugada do último dia 22. Segundo Noxivs, os três escreviam poemas cobrando ações para os problemas sociais do Estado. “Primeiro o guarda só olhou o que tínhamos escrito; logo surgiram mais duas viaturas nos perseguindo”, conta ele. Os três poetas tentaram fugir, mas foram surpreendidos pelo carro da Polícia. Para os policiais, os jovens praticaram o crime de Desacato à Autoridade, ao chamar um policial de incompetente, e Crime Contra o Patrimônio Público, após urinarem no Palácio Piratini.

10:35

eu te odeio

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eu te odeio
mas não consigo parar de te olhar
você se apaixona pelo óbvio
mas não por mim
eu sou o início
não o fim
eu sou o primeira
não a última
eu sou a paixão
não o amor

você me olha como se não estivesse vendo nada
além de carne e pele
eu sou só mais uma pessoa
andando pela rua, olhando pra baixo
sentindo o vento tocar no meu rosto
e a chuva molhar meu corpo

você sabe o quanto me machuca
mas não pára de me atormentar
com a sua voz doce e o seu sorriso malicioso
eu te odeio mas não consigo parar de te olhar



Wanessa Cristo

10:26

Palavras do Diey

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http://blogdonoxius.blogspot.com/





É interessantíssimo e didático observar a selvageria com que os policiais seguem uma simples ordem. Seus olhos brilham, seus dentes se cerram, malditos idiotas. Eu me ponho no lugar dos seus superiores, bebendo e assoprando seu chá de maçã e biscoito doce. Quando eu corro desses policiais sem cometer crime algum que prejudicasse o próximo, cara, eu me sinto sozinho no mundo. A ovelha negra de um mundo de covardes. Se um casal de velhos escutasse na rádio a notícia de que eu e meus amigos fomos detidos em frente ao Piratini por escrevermos poemas sobre liberdade e chamar policiais de "ineptos imbecis", com certeza correríamos risco de vida e de pedras de suas mãos geriátricas. Não há para onde correr! Você mesmo pode ser um dos meus maiores inimigos; há até "esquerdistas" que querem meu Olho Roxo. Acho que vou desistir de tudo isso e arrumar um emprego, pois quem trabalha não tem tempo para pensar em coisas triviais, como "a Decadência do Ser Humano" ou "o Retrocesso da Sociedade"...








Lacaio



Você quer entrar nos meios, sim...

quer participar das orgias

regadas a vinho do porto e cocaína.

Quer se incluir

quando seus colegas ministrarem típicas festas de irmandade universitária norte-americana

quer ser incluso.

Nem que isto lhe custe horas de bajulação

e humilhação;

se esconde atrás de pretextos cinematográficos avant-garde

e estilos alternativos mimados de vida européia

desprezível máscara

para esconder a podridão e a miséria de teu intelecto.

Pois se dentro desta carcaça

chegou a existir algum mel,

certamente já foi consumido pelo egoísmo

e anti-sociabilidade, incompatibilidade de manter qualquer espécie de relacionamento

sem lacaísmo.

Esqueça-te de quem foste

de quem viestede quem conheceste

do que fizeste

de onde moras (presente, veja bem)

e infiltra-te nos meios

e te fodas.

Nos vemos na taberna do Portador da Luz,

onde o meu escárnio te fará feridas.

10:25

Mas o que é um ZINE?

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São publicações, uma espécie de “jornalzinho” independente, de pequena circulação, na maioria das vezes voltado à cultura e sem fins comerciais. Provavelmente o primeiro Zine tenha surgido ainda no século XVIII, quando o inventor, Benjamin Franklin, fez um informativo para seus pacientes no hospital da Pensilvânia.
Existem 2 tipos: os zines e os fanzines. Esse último, empregado inicialmente aos zines feitos por fans de Punk Rock, e depois especializando-se em algum tema qualquer. Já os zines, por outro lado, são textos e figuras alternativas, sem se prender a um assunto específico.

O que é o ALGAZINE?

É o cool zine do Algarve, o bairro mais perdido da cidade, entre Viamão, Alvorada e Porto Alegre. Todo pessoal das redondezas pode participar, basta mandar seu trabalho para o email da “editoria”.
Espero que gostem, pois é feito por e para vocês.

Apóie a cultura do bairro! Afinal, ele está precisando de um pouco.

* Você, comerciante, ajude-nos com as cópias e nós ajudamos você.

Postado por Algazine |






Barulho - Bairro do Rock

Você saca o que está rolando na cena rocker do Algarve? Ops...
Aí vai um breve histórico de algumas bandas que fazem o som nas garagens do nosso bairro.


Evil Sight (Heavy/Trash Metal)
Riffs rasgados, baixo pesado, voz grave e batera destruidora. Eles são pura energia e interação com o público.

Integrantes: Jhon Peres, vocalista – Richard Nickson, guitarrista base – Thomaz Coradini, guitarrrista solo – Fernanda Pichi, baterista.

Aerolitos (Punk/HardCore)

Com cerca de um ano, a banda acaba de lançar um Single com 16 músicas, e logo vai disponibilizar o primeiro clipe de uma banda de rock do bairro.

Integrantes: Luciano (Chonho), vocalista – Guilherme Rosa, guitarrista – Guilherme Rios, baixista e backin vocais – Kanan, baterista.

Rhuina (Death Metal)

Sem abrir mão de musicalidade e bom gosto, ela soa tanto peso e agressividade que cria um som novo dentro do próprio Death Metal.

Integrantes: Igor Dornelles, guitarra e vocais – Mauricio Capra, guitarra – Marcelo Azevedo, bateria – ??, baixista

TattooMotor (Rock n’ Roll)

Revivendo o espírito do Rock nos seus maiores e melhores tempos, acabam de lançar um Single que vai além de suas principais influências: Kiss e MotörHead.

Integrantes: Willian Romasanta, baixista e vocalista – Fagner Fast Mycher:, guitarrista – Lagarto, baterista e Eduardo Bustos, tecladista


Detonantes (Punk’a’billy)

Frenesi, visual rocker e performances que vão além de Stooges, a banda ainda incita: “Somos os melhores. Não somos, garotas?!”
Integrantes: Diey N., Baixista e voz – Adamski, guitarrista e voz – Gustavo Quente, Baterista e backings.
Chute No Rim(Punk Rock)

Garantia de barulho e festa na medida certa, os caras dão o toque: “tocamos punk rock com qualidade!”

Guma Morales, guitarrista e vocalista – Freddy, baixista e vocalista – Pepe, baterista e backing vocals.

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