ALGAZINE

COOL ZINE DO BAIRRO

15:11

Telefone!

Postado por Algazine |



Ele acorda, finge ter um cigarro entre as mãos. Submete-se a apenas um prazer: pensar. Era egocêntrico demais, achava que seus pensamentos eram tão superiores que ainda não havia alguém digno de suas palavras.
Se ela diz: “Te amo.”
Ele apenas bafora nada.
Mas, para completar...
“Obrigado”; seu amor suspira.

Vai ao banheiro e sente um abraço golpear sua perna. O resto de um corpo se aproxima junto.
“O quanto tu me quer, homem?”- a boca de seu amor pergunta. Ela não entende: ele não consegue responder.
“Podia disfarçar, ao menos?” – desespera.
“Posso... Mas hoje?” - ele tenta. Apesar de poucas palavras, a mulher linda e nua, com seu cabelo bem meio muito curto e saboreando um morango, sente o calor subir por entre suas pernas.
E geme um “sim”.
Ele bebe um longo gole de Martini, mas logo em seguida o cospe no ralo, e, sem dar atenção à sua futura espos,a percorre pelo outro lado do concreto o mesmo caminho que sua saliva misturada à bebida estava percorrendo. “Isso responde”.

Ela sorri amavelmente e admira: “Nossa, eu também adoro cuspir!”

O vizinho do andar de cima liga o toca-discos e o Compay Segundo invade a casa. Eles migram para a sala, deitam-se no tapete, admiram o sol, se energizam. Uma barriga ronca - é a dela - e a saborosa mulher conforma-se em preparar algo para comer. Ele quer parecer gentil, não deixa. Vai à cozinha e prepara um delicioso copo d’água.

“Você faz todas as minhas vontades, não sei como agradecer...”, ela enxuga as lágrimas, pois realmente estava sensibilizada.

A noite cai, eles continuam ali. Ela, molhada, deitada no peito dele. Ele, seco, servindo de travesseiro para o corpo dela. “Quando nos casarmos, vou querer cinco lindos cachorrinhos e um jardim cheio de violetas. Os meninos também vão estudar francês desde cedo, como não pude, e vão assistir a Buena Vista Social Club, do Wenders. O que você acha, chéri?"
Instantaneamente, ele imita o som de um telefone velho e simula em sua mão o mesmo objeto, transformando seu dedo mínimo em falante e o polegar em ouvinte.
“Nossa, amor, é uma reunião de trabalho e séria, preciso ir.”
“Claro, Pedro. Mas, mas assim que der, ligue o telefone!” - ela se despede.


Rodrigo Adamski

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